. Omeletes
. Velha?!
. "Três esfaqueados no Port...
. 90 mil... Será que chegam...
. "O povo é sereno! É apena...
. Perfumes
. "A nossa única riqueza é ...
"O que o português vinha buscar era, sem dúvida, a riqueza,
Mas a riqueza que custa ousadia, não a riqueza que custa trabalho."
in "1808" de Laurentino Gomes
Há mesmo coisas que não mudam.
Deve-nos estar na massa do sangue...
"A ausência de resposta de Lisboa, pensou ele,
era típico do governo do país: querer omeletes sem ovos."
in "Equador" de Miguel Sousa Tavares
"O que não havia em Portugal era uma tradição de cidadania, um desejo de liberdade, um gosto de pensar e agir pela própria cabeça: o desgraçado do trabalhador do campo dizia e fazia o que o patrão lhe mandava, este repetia o que o cacique local lhe transmitia e este, por sua vez, prestava contas e vassalagem aos próceres do partido em Lisboa. Podia mexer-se no cume da pirâmide, que tudo o resto, até à base, permaneceria inamovível. A doença era bem mais profunda do que a maleita a que um simples golpe de Estado constitucional pudesse atalhar."
in "Equador" de Miguel Sousa Tavares
O que não havia e não há em Portugal.
É o que se conclui deste exerto.
Absolutamente imutável nos tempos que correram.
E nos tempos que correm.
E nos que virão?
Algumas imagens falam por si.
Esta é uma delas.
Aqui há uns dias disseram-me que parecia uma velha.
Sim, uma velha.
Perguntei porquê.
Resposta: "Porque estás sempre a dizer que o país é uma vergonha."
Pois.
E eu pergunto: "É mentira?"
Não. Não é mentira.
"O país é uma vergonha" é a frase do desespero.
É a frase do "já não sei que possa dizer mais".
Certas pessoas só entendem quando lhes chega ao bolso.
Mas porquê?
Porque os puseram lá.
Mas quem?
Os políticos.
"Cada país tem o governo que merece".
"Quem bela cama faz, nela se deita".
Sabedoria popular aplicada à política.
E porque não?
Porque é o "povo" que os põe lá.
Porque o "povo" tem memória curta.
A semana passada Portugal entrou em pânico.
PR e PM estávam onde?
Ninguém os viu ou ouviu.
Talvez na Suíça a ver a Selecção.
E quem liga? Ninguém.
Desde que dêem regalias aos camionistas e diminuam 1% do Iva em Julho
Para "enganar o burro com a cenoura", tudo bem.
E já agora, velha. Não idosa.
Porque idosos e auxiliares de acção qualquer coisa são designações socialistas.
E mais não digo.
"Três pessoas foram esfaqueadas no final do Portugal-Alemanha na Praça General Humberto Delgado, junto à Câmara Municipal do Porto.
As três vítimas de 26, 39 e 43 anos, foram transportados ao Hospital de Santo António, mas já tiveram alta.
Segundo o Oficial Dia do Comando do Metropolitano do Porto, um homem de 59 anos esfaqueou sem qualquer motivo aparente as pessoas que se encontravam mais próximas.
«O homem terá ficado mal disposto com o resultado do jogo e começou a esfaquear quem estáva mais perto de si», acrescentou.
A fonte disse que o autor do esfaqueamento, que foi detido, já tem registos na polícia pela prática de crimes idênticos.
Nas declarações que prestou à PSP não deu qualquer explicação que justificasse a sua atitude, uma vez que, aparentemente, nem sequer conhecia as vítimas que «apenas tiveram o azar de assistir ao jogo ao seu lado.»"
in jornal Record, 20/06/2008
Nem sei se esta notícia merece comentários.
Desde ficar aborrecido com o resultado da Selecção ser motivo para esfaquear alguém, até as pessoas que foram esfaqueadas terem tido APENAS AZAR de ficar ao lado deste criminoso...
Sem mais comentários possíveis.
O país está como está.
Nem vale apena referir.
Contudo, o português
Estáva ligeiramente distraído
Devido à Selecção.
Talvez com satisfação dos nossos ministros
Assim puderam, durante uns dias,
Tapar o sol com a peneira.
O país esteve em crise a semana passada
E onde estávam os senhores ministros?
Talvez em Genéve a ver o jogo.
Quem sabe.
A verdade é que desta vez
Nem a Selecção nos permitiu espairecer.
Um país de vedetas
Um país de interesses individuais
Um país que se contenta com isso quando tudo corre bem
(Ou aparentemente corre)
Mas que quando tudo corre mal
Corre atrás do prejuízo
Em vez de atacar os problemas de frente.
Mas...
Esta descrição...
Não corresponde também à nossa Selecção?!
Selecção, diz-me tu...
Rock in Rio, dia 6 de Junho.
Foi qualquer coisa de impressionante.
Nunca vi tantas pessoas juntas em uníssono.
Por uma música. Por uma banda.
Tantos sorrisos, tanta energia libertada.
Simplesmente.
Adorei os concertos de Kaiser Chiefs e The Offspring.
Muse fiquei a conhecer melhor. E também esteve à altura dos outros.
Mas gostos musicais, ou outros, não se discutem.
São gostos.
Mas deixou-me a pensar.
Se são bandas e músicas capazes de reunir
Mais de 90 mil pessoas
Porque não outras causas hão de reunir o mesmo número?
Porque será que estas mesmas pessoas
Não lutam por um país melhor?
Será o conformismo?
Será o medo?
Não sei.
Mas custa.
Custa ver tantas pessoas unidas por uma música
E ver o nosso país na mesma situação de sempre.
Cada vez mais triste. Cada vez mais pobre.
Uma pessoa, por mais que me custe admiti-lo
Já vi que não faz a diferença.
Mas...
E 90 mil? Será que chegam?
Pensem nisto.
Hoje deixo apenas um pequeno texto.
Depois fica ao critério de cada um.
"Para curtir
Parafraseando os Gato Fedorento: «O fumo do tabaco é uma coisa extremamente horrível, não é? É. Portanto, devia ser proibido? Exacto. Mas eu poderia fumar? Podia. O que é que me acontecia? Nada. Mas estava a ir contra a lei? Estáva. E como é que a lei me punia? De maneira nenhuma. Mas isso é um bocadinho incoerente? Pssschiu!» Ou ainda: «Fumar num avião é proibido, mas pode-se fazer. O que é que acontece a certas pessoas que o fazem? Nada!».
A comédia da semana é um tributo ao impagável almirante Pinheiro de Azevedo: «O povo é sereno! É apenas fumaça!»."
in "A semana que passa" de Paulo Paixão, no Expresso de 17 de Maio de 2008
EXPLICAÇÃO RIGOROSA
"Esperar
o quê?
uma máquina
de transformar bananas
em governos?
uma porta
que só obedece ao sinal
do ombro respeitável?
o cão profissional
que morde à sexta-feira
a perna que contesta?
o dedo
a unha poluída
que aponta a única direcção?
esperar
o quê?
o riso explosivo
e quente
como um sexo de mulher
aberto em flor
a faca
a granada
o dia."
in "Novos Contos do Gin" de Mário-Henrique Leiria
Mais coisas intemporais? Dia das Mentiras?
Estranho mais uma vez?
Talvez não.