. "A nossa única riqueza é ...
. "Acho tão natural que não...
. "As cousas são o único se...
. Perfumes
. "A nossa única riqueza é ...
"Creio no Mundo como um malmequer
Porque o vejo,
Mas não penso nele.
Porque pensar é não compreender."
Alberto Caeiro
Há quanto tempo não entravas no meu Mundo, Caeiro?
Ora pois, cá estás de volta.
É bom ou é mau este retorno?
Não sei. E tento não pensar.
Tento descontrair.
Basicamente tento ser feliz. O melhor que consigo.
"Da minha aldeia vejo quanto da Terra se pode ver do Universo..
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver."
Alberto Caeiro
Mais um, Caeiro, mais um. E que razão tinhas tu.
Pena é que, por mais preto no branco que se seja, por vezes é difícil não perguntar cousas, não pensar nas cousas.
"Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa...
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas...
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente...
Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu."
Alberto Caeiro in "O Guardador de Rebanhos"
Mais uma vez eu, mais uma vez Caeiro. Mais um poema.
As minhas "escapatórias mentais" vão muitas vezes parar a estes poemas.
Porquê? Não sei. Talvez porque são simples, mas de simples não têm nada. Talvez porque com estes poemas "vejo quanto da Terra se pode ver do Universo" (Alberto Caeiro).
"O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei eu disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam o que realmente parecem ser
E não haja nada que compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos:
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas."
Alberto Caeiro in O Guardador de Rebanhos
Quem segue o blog vê que é simples.
Duas cores de fundo. Cada post com um texto e uma imagem. Talvez uma parte em itálico. Não mais.
Eu sou assim. Simples.
Ou melhor, preto no branco.
Ou é ou não é. Não existem "senões".
Talvez por isso seja melhor dizer que o blog é simples, mas que eu não o sou.
Odeio os cinzentos. Sei que existem mas prefiro contorná-los.
Ou gosto, ou não gosto.
Ou quero, ou não quero.
Ou está certo, ou está errado.
Daí que me revolte com muitas coisas. Não gosto de meios termos. Não gosto de, como diz o povo "nem coiso nem sai de cima".
Sou como Caeiro. Identifico-me com ele.
Somos o que vemos. Poderia ser uma frase dele.
Já "há metafísica bastante em não pensar em nada".
Não é preciso metafísica para os cinzentos, porque estes são invenção humana.
Afinal de contas, cinzento é simplesmente uma mistura de duas cores: preto e branco.
Alberto Caeiro, poeta e Pessoa, para quem percebe o trocadilho.
Identifico-me bastante com a sua poesia, e por isso, deixo aqui um poema que muito me diz.
"Se quiserem que eu tenha um misticismo, está bem, tenho-o.
Sou místico, mas só com o corpo.
A minha alma é simples e não pensa.
O meu misticismo é não querer saber.
É viver e não pensar nisso.
Não sei o que é a Natureza: canto-a.
Vivo no cimo dum outeiro
Numa casa caiada e sozinha,
E essa é a minha definição."
in "O Guardador de Rebanhos"